Certas mulheres gostam de carro, de corrida, de pista, de engenharia, e também de serem mães. Pelo menos assim é para a engenheira automotiva Rachel Loh, que acumula múltiplas funções, sem jamais abandonar as pistas. Engenheira de pista na Stock Car, chefe de equipe na Copa Truck, Membro da Comissão Feminina do Automobilismo Brasileiro, Mentora na SAE (Sociedade de Engenharia Automotiva) Mulheres e Comissária Técnica do GP de Fórmula 1 Brasil, o que não falta para a mãe da Alice é disposição e um desejo enorme de ver as mulheres vencerem em todas as áreas. “De tudo o que eu faço, sem dúvida ser mãe é o que me dá mais trabalho”, fala Rachel, com aquele sorriso de quem ama todas suas facetas.

 

Aos 43 anos e 20 de carreira, Rachel é a primeira engenheira da Stock Car Pro Series e tem intensificado a bandeira da participação feminina no esporte a motor. A percepção de que poderia se tornar uma voz diferenciada, que tivesse uma repercussão além da mídia, começou durante a pandemia.

 

“Nós nos vimos isolados, fazendo só reuniões on-line, e começamos uma série de palestras com equipes, empresas, grupos estudantis. Neste momento percebi que não bastava eu ser uma mulher, uma mãe, no automobilismo, mas que era importante eu ensinar, educar, puxar outras mulheres comigo.”

 

Rachel Loh e a piloto Bia Figueiredo

Rachel Loh e a piloto Bia Figueiredo

 

Autocuidado e equilíbrio

Foi nesse período que Rachel abriu o Instagram como perfil público e começou a interagir. Hoje ela promove programas de imersão no motorsport, cria grupos de aulas de inglês, dá dicas de carreira, une hard e soft skills. Uma comunicação voltada para meninas que querem conhecer mais. Também a partir daí começou a fortalecer os grupos de mulheres, estudantes e profissionais, trabalhando aspectos como sororidade, acolhimento, compaixão.

 

Nesta vivência, Rachel destaca o quanto o autocuidado é fundamental no dia a dia. Ao contar que a cada vez que saía para uma etapa a Alice adoecia, Rachel fala do quanto é preciso manter o equilíbrio, estar bem emocionalmente. “Ainda temos muitas travas, mas elas são psicológicas, da nossa cabeça, precisamos aprender a lidar com elas, é um verdadeiro desafio.”

 

Apaixonada por automobilismo desde que no curso de Engenharia Automotiva começou a integrar o Projeto Baja da SAE, Rachel afirma que nunca tinha pensado o quanto o esporte a motor seria sua vida. “Fui fazer engenharia porque meu pai era engenheiro, era muito jovem, nem sabia o que queria. Mas quando comecei nos projetos estudantis e fui piloto do meu carrinho, a primeira mulher de uma equipe, me apaixonei e não larguei mais.”

 

Gravidez programada

Nem a chegada de Alice, há nove anos, afastou Rachel das pistas. “O mundo do automobilismo ainda é muito masculino e muito machista, mas precisamos ir crescendo, diminuindo a opressão, nos posicionando com respeito, trabalhando com a pressão. Quando eu cheguei, era um experimento e fui trabalhando uma jornada de autoconhecimento.” A saga da maternidade é vista por Rachel como um projeto feminista desde o berço. Ao falar que tudo é possível quando se quer alguma coisa, Rachel conta que a gravidez foi programada de tal modo que não atrapalhasse a temporada. Tinha mês certo para engravidar. “Avisei meu marido. Se não for agora, só depois do próximo campeonato (risos)”. E assim foi. Antes de acabar o período de licença-maternidade, Rachel já estava de volta, para surpresa dos colegas.

 

“O pessoal me via e perguntava: ‘já?, mas com quem está o bebê?’, como se não houvesse um pai para cuidar. E eu estava lá feliz, porque sabia que minha filha estava bem e que eu podia voltar ao trabalho.” Na educação de Alice, Rachel reforça o discurso de que a filha pode ser o que quiser. Os ensinamentos da mãe fazem todo sentido para a menina. Ao participar de uma seleção de brinquedos para os desabrigados pelos desabamentos no Rio de Janeiro, Alice ouviu de uma voluntária: “Vai separando o que é de menina do que é de menino.” Ao que a garota de pronto respondeu: “Isso eu não posso fazer, não existe brinquedo que é de menina e que é de menino. Eu só posso separar o que é boneca, carrinho, jogo, todo mundo brinca com tudo.”

 

 

Girls like Racing

Mostrando na prática o quanto pode fazer pelas mulheres nos autódromos e na vida, Rachel, que foi uma das 24 engenheiras selecionadas no mundo para atuar como oficial de competição no GP noturno da F1 em Singapura, em 2022, chega ao Rio Grande do Sul na próxima semana. É claro que além de dirigir a equipe da Ipiranga Racing na Stock Car, no Autódromo de Tarumã, a mãe da Alice vai capitanear uma tarde de eventos femininos, em parceria com o Girls Like Racing, programa que incentiva a participação feminina nos autódromos nas diferentes áreas, de espectadoras a profissionais.

 

“A gente precisa compartilhar, ajudar, incentivar nossas líderes do amanhã.”