A gestão do estoque é uma das atividades mais importantes da logística e que merece toda a atenção quando a intenção é se posicionar de uma maneira competitiva no mercado. Falar sobre estoques, no entanto, requer um entendimento aprofundado do papel que a logística desempenha no aftermarket. Ainda que o setor tenha se desenvolvido sobremaneira nos últimos anos, com a incorporação de sistemas que integram todos os processos internos e externos, compartilhando as informações de seu estoque com os seus fornecedores, a formação de mão de obra qualificada para entender a complexidade deste ecossistema é um dos grandes desafios do setor.

 

Se formos pensar no Brasil, um país de dimensões continentais, a gestão de estoque se torna ainda mais importante. Estar fisicamente próximo do cliente se tornou um diferencial para os distribuidores e lojas de autopeças. Um dos complicadores da gestão da cadeia de suprimentos, o grande número de intermediários, pode aumentar os tempos de entrega e elevar os custos logísticos.

 

Também deve-se considerar que a frota varia de região para região e, por consequência, a demanda por peças. Há estados em que a circulação de utilitários é muito mais elevada, enquanto nas capitais e grandes centros urbanos predominam os carros de passeio. Ajustar a distribuição a fim de atender de forma eficiente as necessidades de cada área exige conhecimento e ferramentas de análise. Também a ampla variedade de peças e componentes necessários para atender diferentes modelos e marcas de veículos é um complicador.

 

Com todas essas considerações, identifica-se que a atividade é uma das mais relevantes quando se pensa em abastecimento no mercado de reposição automotiva. Afinal, ao falar em logística, precisamos ter em mente o conceito clássico – o processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados. Isso significa ter o controle de todo fluxo de operações desde o fabricante, ponto de origem da mercadoria, até a autopeças, o ponto de consumo, sempre com foco no atendimento ao cliente. Entre um ponto e outro desta cadeia, está o estoque.

 

Para que você faça uma gestão eficiente do estoque, é preciso levar em consideração alguns pontos que integram o dia a dia de pequenas e grandes empresas.

 

Planejamento de Demanda

 

Uma das atividades que otimizam a alocação de recursos e minimizam os custos operacionais, o Planejamento de Demanda melhora a capacidade de atendimento ao cliente, principalmente no segmento de autopeças.

 

Quando se fala em planejar a demanda, é preciso saber prever e analisar as necessidades futuras. Para isso, deve-se levar em consideração dados históricos de venda, sazonalidade e tendências do mercado.

 

Porém, de nada adianta ter os dados se não houver uma análise estatística sobre eles. Em geral se considera os seguintes estudos: médias móveis (a média de vendas de produtos em um período específico e ao longo do tempo), suavização exponencial (técnica utilizada para prever valores futuros, a partir do tempo em que o produto está disponível na prateleira) ou modelos de séries temporais (conjunto de observações sobre o comportamento de determinado componente, indicando se ele tem uma venda sazonal, tendência de crescimento ou de decrescência, comportamentos cíclicos atrelados a alterações econômicas), entre outros.

 

Níveis de Estoque

 

Equilibrar os custos de manter as mercadorias em estoque e a capacidade de atender às demandas dos clientes é um verdadeiro desafio, uma vez que é preciso equilibrar duas variáveis fundamentais para o negócio: minimizar os riscos de empatar o capital com peças paradas em casa e a disponibilidade em tempo integral das peças para o cliente. Autopeças, todos sabem. Quando se precisa delas, é porque há um veículo parado demandando conserto.

 

Nessa análise, que está intimamente ligada à Previsão de Demanda, se faz necessário calcular os custos de armazenagem, incluindo aluguel ou custos de espaço, seguro, depreciação entre outros custos fixos e variáveis. Outro item que merece atenção é os custos relacionados ao pedido – envio, manuseio e administração. Quanto mais frequentes os pedidos, maiores os custos. Também calcule os custos das faltas. O quanto você paga por dizer não ao cliente?

 

Reposição e Reabastecimento

 

Defina como vai ser a sua política de reabastecimento. Nesse item, são dois os métodos que garantem a disponibilidade contínua dos produtos. O Ponto de Pedido, aquele momento crítico em que se faz necessário demandar um novo pedido ao fabricante. E o Lote Econômico de Compra (EOQ – Economic Order Quantity), que minimiza os custos totais de pedido e armazenamento.

 

Controle de Inventário

 

O monitoramento e rastreio constante do estoque físico, comparado com os registros do sistema, minimizam erros e desvios. Uma boa prática dos grandes distribuidores de autopeças é o inventário diário, com contagens cíclicas e rotativos. Isso significa que sempre há pelo menos uma marca sendo inventariada todos os dias, e a mesma marca é contada pelo menos duas vezes ao ano.

 

Classificação ABC

 

Categorize os produtos com base na importância para o negócio, priorizando a gestão e o controle dos itens mais significativos, responsáveis pela maioria das vendas. Não se deve, no entanto, perder de vista as chamadas “moscas brancas”, produtos que estão fora da Curva ABC mas que seu cliente pode precisar e que, se você tiver, certamente vai poder alcançar uma margem melhor e ainda aumentar a satisfação.

 

Gestão de Fornecedores

 

Uma premissa é que ter bons fornecedores, fabricantes de confiança reconhecidos pelo mercado, é fundamental para uma gestão eficiente. Estabeleça relacionamentos sólidos e duradouros, que possibilitem a negociação dos termos de entrega e índices de qualidade.

 

Armazenagem

 

O cuidado com a armazenagem é apontado como um dos grandes diferenciais, em especial no Brasil, que apresenta regiões com altas variações de umidade e temperatura que podem danificar alguns componentes. Conhecer os fabricantes e os produtos em estoque é fundamental para garantir uma armazenagem correta das autopeças e a integridade da mercadoria entregue ao cliente.

 

Tecnologia e Automação

 

No âmbito do gerenciamento moderno da cadeia de suprimentos, o conceito de automação de armazém revolucionou a maneira como as empresas lidam com seus estoques e agilizam as operações. Isso implica a integração de tecnologias avançadas para aumentar a eficiência e a precisão nos armazéns.

 

Uma dessas tecnologias é o RFID (Radio Frequency Identification), um método de identificação de objetos e captura de dados que utiliza campos eletromagnéticos para identificar e rastrear automaticamente tags anexadas a objetos. Em armazéns, o RFID desempenha um papel fundamental no gerenciamento de estoque, pois permite o rastreamento e monitoramento em tempo real dos itens à medida que eles se movem pela cadeia de suprimentos. Isso não apenas minimiza o erro humano, mas também otimiza todo o processo, desde o recebimento das mercadorias até o atendimento do pedido.

 

Outra inovação de ponta na automação de armazéns é a utilização de veículos guiados automaticamente (AGVs). Esses veículos autônomos são equipados com sensores e sistemas de navegação que permitem navegar pelo ambiente do armazém sem intervenção humana. Os AGVs são projetados para transportar materiais de um local para outro, reduzindo a necessidade de movimentação manual, uso de empilhadeiras e o risco de acidentes. Eles podem ser programados para seguir caminhos predefinidos, evitar obstáculos e até se comunicar com outros sistemas do armazém, aumentando ainda mais a eficiência operacional.

 

Outras ferramentas que apoiam a gestão de estoques são os sistemas ERP (Enterprise Resource Planning), que integram informações de diversas áreas como finanças, vendas, compras e estoque. Eles permitem um controle centralizado de estoque, facilitando a coordenação das atividades de compra, venda e reabastecimento. Também ajudam a manter registros precisos, agilizando a tomada de decisões. Além disso, os sistemas WMS (Warehouse Management System), apoiam com para otimizar a gestão de armazéns e de centros de distribuição. Entre os recursos, estão rastreamento de produtos, planejamento de espaço, gerenciamento de picking e embalagem. Também melhora a eficiência e a precisão das operações logísticas.

 

Análise de Desempenho

 

Estabeleça indicadores-chave de desempenho e monitore-os constantemente. São de praxe os níveis de estoque, índices de rotatividade e custos operacionais. Nada impede que você agregue outros que venham a auxiliar na gestão.

 

Fluxo de Caixa

 

O alto investimento em estoque pode liquidar com o seu fluxo de caixa, engessando recursos financeiros e afetando a disponibilidade para outras atividades e potenciais investimentos. Por isso zelar pela gestão de estoques é contribuir para a sanidade financeira do negócio.

 

Estes são alguns dos pontos para uma gestão eficiente do estoque no dia a dia de pequenas e grandes empresas.

 

Participação: Carlos Lustro – Gerente Corporativo de Logística da Rede ANCORA.